
Crianças e gestantes também merecem cuidado. A cafeína pode afetar o sono e irritabilidade das crianças, além de impactar o desenvolvimento neurológico
O café com leite está presente na rotina de muitos brasileiros e costuma gerar dúvidas: afinal, essa combinação é saudável? Segundo especialistas, a resposta depende de fatores como a quantidade consumida, o tipo de leite usado e a condição de saúde de quem ingere.
Para a gastroenterologista Louise Verdolin, dos hospitais Samaritano Barra e Vitória, no Rio de Janeiro, a mistura pode ser considerada saudável para a maioria dos adultos, desde que seja consumida com moderação e sem excesso de açúcar. “O consumo moderado de café está associado a menor risco de mortalidade, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, acidente vascular cerebral, declínio cognitivo e alguns tipos de câncer, independentemente de ser com ou sem cafeína, e mesmo quando adicionado ao leite”, afirma.
A nutricionista Débora Palos, do Alta Diagnósticos, acrescenta que a combinação traz benefícios por unir antioxidantes do café a proteínas, cálcio e vitaminas do leite. Ela lembra, no entanto, que a adição de açúcar pode comprometer o valor nutricional. “Exagerar no café, com mais de cinco xícaras por dia, pode causar insônia, ansiedade e aumento da pressão arterial em pessoas sensíveis”, explica.
Não há consenso sobre a medida exata entre café e leite. Para Verdolin, a escolha depende do gosto pessoal, já que não existe proporção capaz de potencializar os efeitos de cada componente.
Palos sugere opções práticas: metade café e metade leite para uma bebida equilibrada, dois terços de café e um terço de leite para privilegiar os antioxidantes, ou dois terços de leite e um terço de café quando a intenção é priorizar cálcio e proteínas.
Tanto o café quanto o leite podem interferir na absorção de ferro. Os polifenóis do café reduzem a absorção do ferro presente em vegetais, enquanto o cálcio do leite também atua nesse processo. Por isso, a recomendação é evitar o consumo da bebida junto às refeições principais. “Esperar cerca de uma hora ou associar alimentos ricos em vitamina C ajuda a minimizar o impacto”, orienta Verdolin.
No caso do cálcio, a cafeína pode reduzir sua absorção intestinal, mas, segundo as especialistas, o efeito não compromete a saúde de quem mantém ingestão adequada do mineral ao longo do dia.
Alguns grupos precisam de atenção especial. Pessoas com intolerância à lactose podem optar por leites sem lactose ou associar o consumo a suplementos de lactase. Já alérgicos ao leite devem evitar o consumo e buscar orientação médica para alternativas seguras, como bebidas vegetais fortificadas.
Crianças e gestantes também merecem cuidado. A cafeína pode afetar o sono e irritabilidade das crianças, além de impactar o desenvolvimento neurológico. Para grávidas, o limite é de até 200 mg de cafeína por dia, o equivalente a duas xícaras de café coado.
Pacientes com gastrite ou refluxo podem sentir agravamento dos sintomas, já que o café relaxa o esfíncter esofágico, facilitando o retorno do ácido do estômago. Em idosos com doenças renais ou síndrome metabólica, o excesso de cafeína pode acelerar a perda da função dos rins.