
Apesar de ser uma bebida com benefícios documentados, o café pode não ser bem tolerado por uma série de pessoas, causando problemas graves
Uma das bebidas mais consumidas no mundo, o café contém mais de 1.000 compostos ativos, incluindo cafeína, minerais, vitaminas, compostos fenólicos, polissacarídeos, lipídios e aminoácidos. Apesar dos benefícios, a resposta à cafeína varia bastante entre as pessoas: enquanto algumas não conseguem viver sem, outras sequer podem consumi-la.
"Algumas pessoas são sensíveis à cafeína, apresentando problemas de digestão e gástricos, alterações de ritmo cardíaco e pressão arterial, agitação emocional e distúrbios do sono, situações em que o café deve ser deixado de lado", afirma a médica nutróloga especialista Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
A seguir, especialistas explicam alguns efeitos adversos da cafeína para determinados perfis:
Enxaqueca: Segundo o neurologista especialista em Cefaleia Tiago de Paula, membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC), a enxaqueca é uma doença crônica associada à hiperexcitabilidade cerebral. Por isso, pacientes com a condição devem evitar estimulantes como café, chocolate, energéticos e termogênicos, como gengibre e pimenta vermelha.
"A cafeína presente no café e nos chás estimulantes é conhecida como cronificador da enxaqueca. Um exemplo clássico de dor rebote pela cafeína ocorre quando o paciente deixa de tomar por um dia o café que consome diariamente, sente dor de cabeça e precisa tomar café para melhorar", explica o especialista. Ele ainda acrescenta que o cérebro de quem sofre de enxaqueca já reage de forma intensa a estímulos sensoriais, como luzes fortes, ruídos ou variações hormonais. "Fatores cronificadores ampliam essa reatividade, modificando circuitos cerebrais relacionados à dor e dificultando o retorno ao padrão normal", completa.
Infertilidade: O consumo excessivo de café e outras fontes de cafeína, como energéticos e alguns chás, pode reduzir a fertilidade. "O excesso de cafeína, acima de 100mg por dia, pode prejudicar a fertilidade, principalmente feminina, pois leva a alterações hormonais e na produção de óvulos. Além disso, a ingestão exagerada de cafeína durante a gravidez tem sido relacionada ao aumento do risco de abortos", alerta o especialista em reprodução humana Rodrigo Rosa, diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. A recomendação é limitar o consumo de café a, no máximo, duas xícaras diárias.
Manchas nos dentes: Alguns alimentos e bebidas podem provocar amarelamento dentário. "Este fenômeno não é imediato e leva tempo para ocorrer. De toda forma, o manchamento provocado é do tipo extrínseco e pode ser removido por uma limpeza profissional em consultório odontológico. Caso consuma esse tipo de alimento, procure escovar os dentes logo em seguida para prevenir o surgimento de manchas", recomenda o especialista Hugo Lewgoy, doutor pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) e consultor científico da Curaden Swiss.
"Higiene oral adequada, com escovas de cerdas densas e enxaguatórios ajudam a limitar ainda mais o manchamento. A higiene mecânica adicional também auxilia a minimizar a descoloração", acrescenta o especialista.
De acordo com Marcella Garcez, o consumo moderado de café é definido como até 4 xícaras por dia, equivalentes a 100 a 400 mg de cafeína. "Essa quantidade está associada a benefícios cardiovasculares, redução do risco de doenças neurodegenerativas e melhora na performance mental e física para pacientes que não são sensíveis. A European Food Safety Authority (EFSA) recomenda esse limite como seguro para adultos saudáveis", finaliza a especialista.